segunda-feira, 21 de outubro de 2013

História da RT

Ontem de manhã (Domingo) decidi fazer aquilo que há muito tempo queria fazer. Levantar-me cedo a um Domingo :) Como levantar cedo ao Domingo é um acontecimento de extrema raridade, só podia ser por um motivo muito forte. E sim, era realmente muito forte.
Parti para a estrada na descoberta da história da minha RT. A única pista que tinha para encontrar o tesouro era o livrete original do carro, que continha o nome e morada do seu primeiro e único dono oficial. Pelo que tinha descoberto previamente, o senhor já teria falecido há bastante tempo (o carro é de 1971). Chegado a Vilar do Paraíso, procurei então a rua e número de porta que constam no livrete. A casa ainda existe, o que me deixa por momentos com uma grande esperança de descobrir toda a verdade :) Toco à campainha uma, duas, três vezes, até que surge uma mão de alguém já idoso por dentro de uma janela virada para a rua. Não consigo perceber se era uma senhora ou um senhor. Percebo apenas que a pessoa fica com medo do desconhecido e ignora-me. Bem, já que a casa existe e já que mora cá alguém, não vou desistir agora. Volto a tocar à campainha mais umas quantas vezes, até que percebo que efetivamente ninguém vai falar comigo. Na rua existem mais casas, pelo que decido tentar abordar algum vizinho na tentativa de perceber quem mora naquela casa. A primeira tentativa é a casa imediatamente ao lado, na qual também não tive sucesso. Vamos à próxima então... Duas casas ao lado, e com os cães a ladrar de uma forma ensurdecedora, depois de duas tentativas no botão da campainha, eis que surge uma senhora com alguma idade ao fundo. Abordo a senhora explico quem sou, o que estava ali a fazer e peço-lhe encarecidamente que tente falar com a sua vizinha (duas casas acima na rua) e que lhe explique a situação. A senhora confirma-me que realmente a RT teria sido inclina daquela casa, que o seu dono já teria falecido e que quem lá mora agora é a viúva dele. O meu primeiro objetivo estava então cumprido. Sabia que pelo menos uma foto do local onde a RT dormiu toda (ou quase) a sua vida eu conseguia. Entretanto a senhora amavelmente faz uma chamada à sua vizinha e convence-a de que eu sou sério e que apenas pretendo obter informações sobre a história da RT. E assim foi, voltei à casa da RT, a senhora já esperava por mim ao portão. Um senhora idosa, com perto de 80 anos, debilitada fisicamente, que se fazia acompanhar do telefone (não fosse eu surpreende-la a qualquer momento). Ao mesmo tempo que se mostrava apreensiva e desconfiada com toda a minha curiosidade em colocar-lhe a minha lista de perguntas, os seus olhos brilhavam de alegria por saber que eu sou o atual dono do carro que a levou a muitas terras durante os muitos e longos anos da sua vida. Não me alongando muito na transcrição da conversa que tive com esta senhora adorável, eis o resultado da entrevista:
O carro foi comprado em 1971 e ficou para uso de uma empresa da qual o seu marido era sócio. O veículo ficou para uso do próprio até 1979 ao serviço da empresa. Neste ano a empresa decide vender a RT e pelos vistos havia vários interessados. O marido, como utilizador do veículo teve preferência de opção e acabou por comprar.
Segundo a senhora, a RT terá andado em viagens de família por Espanha e por França.
Em 2003 o marido deixa de conduzir o veículo devido a problemas de saúde. Durante os três anos seguintes a RT fica na garagem sem qualquer utilização.
Em 2006, o marido encontrava-se mal de saúde e a esposa decide que deviam vender o carro, pelo valor de cem mil escudos. Com a ajuda da sobrinha e do Grupo de Escuteiros da zona, são feitas rifas naquele valor. Foi também uma forma de dinamizar os jovens escuteiros para ajudar uma família a vender o carro. É um sobrinho que retira o veículo da garagem e o leva até à sede dos escuteiros para ser entregue ao novo dono que acaba de ganhar a RT na compra de uma rifa.
Neste momento ainda não se sabe a quem saiu em sorteio a RT - ainda aguardo mais informações provenientes de França, onde se encontra a única filha do casal.
Foi sem dúvida uma aventura comovente, tanto para mim como para esta senhora que atualmente mora sozinha e que chorou quando lhe prometi que quando a RT estiver restaurada, irei busca-la a casa e levo-a a dar uma volta.

Agora sim, a RT já tem pedigree.




3 comentários:

  1. Espectacular...a RT foi rifada! Mas não percebi porque dizes que não sabes a quem foi rifada...não foi o senhor que ta vendeu?

    tens jeito para abrir portas! devias seguir o caminho religioso! Eu sempre achei que os Domingos de manhã têm um potencial descomunal...

    ficou a faltar uma coisa: fotos! não existem? Daquelas com escritas no verso: "Paris, 7-11-76".

    Para mim, a cereja no topo do bolo é que a 4L era o carro do patrão. Que a conduziu durante 32 anos. A RT tem pedigree, de facto!

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  2. O senhor que ma vendeu comprou-a à pessoa que a ganhou no sorteio. :) Mas que por acaso não a registou em seu nome.
    Quanto às fotos, acabo de receber um telefonema com a notícia de que chegou hoje ao meio dia, diretamente de França, uma foto da RT só para mim :):)

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  3. IMPEC!!

    é favor revelá-la neste blog ASAP!

    uma é bom, mas várias era impecável!

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